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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

POEMA EM LINHA RETA...

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Onde é que há gente no mundo?
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Arre, estou farto de semideuses!
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,


Fernando Pessoa

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O AMOR BATE NA AORTA...

O Amor Bate na Aorta
Cantiga de amor sem eira 
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito.

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...



Carlos Drummond de Andrade, in 'Brejo das Almas' 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

CASAR E MORAR JUNTO... Entenda a diferença.

Casar e morar junto são duas coisas completamente diferentes. Não tem nada a ver com seu status no cartório. Tem a ver com entrega.
Você pode casar com todas as honras. Dar uma festa linda. Gastar os tubos na Lua de Mel. Se mudar com o marido para um apartamento lindo, pronto, decorado, cheio de almofadas em cima da cama… Vocês podem ter se casado – mas vão demorar muito pra saber o que é morar junto. Acho que existem casais que se casam com pompas, e nunca talvez tenham realmente morado juntos.
Morar junto é saber dividir. Saber cobrar. Saber ceder. Saber doar.
Morar junto é dividir as contas e as almas.
Morar junto é ter uma pilha de louça pra lavar, depois de um dia terrível de 10 horas de trabalho. E o outro cantar com você para que, em um karaokê com detergente, o trabalho se torne divertido.
Morar junto é ter que assistir Homem Aranha no Telecine Action, e se esforçar para achar legal.
Morar junto é tomar banho junto. Transformar o chuveiro em uma cachoeira (e o banheiro em um charco)
Morar junto é ouvir onde dói no outro. Do que ele sente medo. Onde ele é criança. O que o deixa frágil.
Morar junto é poder chorar sem parar. E ser ouvida. E cuidada. Mas é também rir. E achar graça em alguma coisa, quando o outro está pra baixo.
Morar junto é fazer contabilidade de frustrações, e saber quando não colocar na conta do outro.
Morar junto é demorar para levantar.
Morar junto não precisa de uma casa, e sim de um espaço.
Quem mora junto geralmente é solidário. Casar não. Qualquer um casa. Pra casar basta assinatura e champanhe. Casar leva umas horas. Morar junto leva tempo. O tempo todo.
Quando moramos juntos vemos o cabelo dele crescer e ela cortar uma franja.
Quando moramos juntos viramos adultos aos pouquinhos, dando um adeus doído ao adolescente que éramos.
Quando moramos juntos mudamos junto. E o outro vira um outro diferente com os anos. E nós vamos aprendendo a amar aquela nova pessoa, todo dia.

Até o dia que, talvez, deixemos de morar juntos.


Roberta Nader

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

CONFUSÕES DO AMOR...

A palavra "amor" pode ser resumidamente classificada e facilmente identificada: amor é tudo o que é positivo e que faz bem. 
O resto é alienação, medo e muita, muita confusão. 
Tem gente que diz: amo quem não me quer. Desculpe, mas há dois pontos aí: quem não aprendeu a se amar não ama ninguém; e quem se ama, não aceita quem lhe faça mal. É claro! Se eu me amo, só quero ao meu lado quem me respeite e que divida bons sentimentos comigo, para o meu próprio bem. Quando penso que amo quem não me quer, quem não me quer sou eu. Quando digo que amo quem me priva de minha liberdade, sou eu, prisioneiro de mim. Em outras, somos nós os responsáveis por tudo o que aceitamos em nossas vidas, que nos faça mal ou bem. 
Há quem diga também: estou sofrendo por amor. Você pode sofrer por carência, inaceitação, egoísmo e também por inflexibilidade. Mas por amor, ninguém sofre. Amor só faz bem. Amor só acontece quando aprendemos a nos amar. E aí, somos nós os responsáveis pelas confusões constantes que fazemos com nossos sentimentos. Somos mestres em criar expectativas e, quando a pessoa que julgamos amar não corresponde a elas, achamos ruim, nos fazemos de vítima, dizemos que não queremos mais amar ninguém e que as pessoas sempre nos decepcionam. 
Quando confundimos amor com ciúme, obsessão, possessividade, egoísmo, alienação, submissão e outras coisas mais, que geram dor e sofrimento a nós e aos outros, melhor nos lembrarmos de que amor só faz bem, e aquilo que não fizer, amor não será. 
Há quem diga: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Falso dito. Devemos ser responsáveis é na forma de amar, e não por sermos amados. Tendo sido honesto e autêntico, quem é amado não tem que se preocupar em agradar para merecer afeto. Amor não combina com sedução. Combina com autenticidade. Precisamos ter a coragem de sermos nós mesmos, certos de que a colheita virá, bem em acordo com o que plantamos. 
Então, se algo não vai bem, será bom repensarmos o amor em nossas atitudes e o que desejamos mudar para que, num futuro que começa no próximo segundo, tudo fique diferente.


Victor Chaves
Primeiro fique sozinho.
Primeiro comece a se divertir sozinho.
Primeiro amar a si mesmo.
Primeiro ser tão autenticamente feliz, que se ninguém vem, não importa; você está cheio, transbordando.
Se ninguém bate à sua porta, está tudo bem -
Você não está em falta.
Você não está esperando por alguém para vir e bater à porta.
Você está em casa.
Se alguém vier, bom, belo.
Se ninguém vier, também é bom e belo
Em seguida, você pode passar para um relacionamento.
Agora você se move como um mestre, não como um mendigo.
Agora você se move como um imperador, não como um mendigo.
E a pessoa que viveu em sua solidão será sempre atraídos para outra pessoa que também está vivendo sua solidão lindamente, porque o mesmo atrai o mesmo.
Quando dois mestres se encontram - mestres do seu ser, de sua solidão -felicidade não é apenas acrescentada: é multiplicada.
Torna-se uma tremendo fenômeno de celebração.
E eles não exploram um ao outro,, eles compartilham.
Eles não utilizam o outro.
Em vez disso, pelo contrário,
ambos tornam-se UM e
desfrutam da existência que os
rodeia.

Osho