Páginas

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

BELEZA E MORTE

 


Eternidade não é o tempo sem fim.

Tempo sem fim é insuportável.

Já imaginaram uma música sem fim, um beijo sem fim, um livro sem fim?

Tudo o que é belo tem de terminar.

Tudo o que é belo tem de morrer.

Beleza e morte andam sempre de mãos dadas.

Eternidade é o tempo completo, esse tempo do qual a gente diz: “valeu a pena”.

Não é preciso evolução, não é preciso transformação: o tempo é completo e a felicidade é total.

Rubem Alves

sexta-feira, 7 de maio de 2021

MOMENTOS EFÊMEROS...

Aí, de repente, os meus olhos se abriram, e vi como nunca havia visto.

Senti que o tempo é apenas um fio.
Nesse fio vão sendo enfiadas todas as experiências de beleza e de amor por que passamos.
Aquilo que a memória amou fica eterno.
Um pôr do sol, uma carta que recebemos de um amigo, os campos de capim-gordura brilhando ao sol nascente, o cheiro do jasmim, um único olhar de uma pessoa amada, a sopa borbulhante sobre o fogão de lenha, as árvores de outono, o banho de cachoeira, mãos que se seguram,
o abraço do filho : houve muitos momentos de tanta beleza em minha vida que eu disse para mim mesmo:
Valeu a pena eu haver vivido toda a minha vida só para poder ter vivido esse momento.
Há momentos efêmeros que justificam toda uma vida.

Rubem Alves

***


Quando nos aprofundamos e investimos energia em pessoas vazias, a única coisa que encontramos é o eco dos nossos próprios esforços. Quando mergulhamos de cabeça em pessoas rasas, o mais provável resultado é quebrar a cara.

O vazio e o raso, no entanto, são largamente subjetivos (e como tudo que é subjetivo, mudam com o tempo). Aquilo que para uma pessoa é oceano, para outra pode ser uma poça d’água. Aquilo que ontem era pleno e profundo, hoje pode ter se tornado vazio e insuficiente.

É o vai-e-vem de uma maré individual. E ninguém é melhor mergulhador das tuas profundezas do que você mesmo. É somente você, portanto, que pode saber a medida do que deve ou não ser aceitável nas tuas relações.

Há quem sofra por derramar oceanos em alguém que só deseja um copo d'água. Da mesma maneira, há quem se assuste por receber toneladas quando desejava apenas um punhado. Há, também, pessoas que entregam o mar a alguém que sonha com montanhas.

Ninguém é obrigado a sentir, desejar, amar. Assim como ninguém é obrigado a se contentar com migalhas afetivas. Sentimentos e desejos se manifestam de maneiras diferentes em cada um de nós.

Eis o difícil ponto de equilíbrio das relações humanas. A complexa dança entre a empatia e o respeito por si próprio.

Pedro Calabrez Furtado