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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

BARATA À VISTA...


A barata é a mais lídima das aquisições democráticas do mundo. Quase toda a casa a possui. Aos pobres lhes cabe melhor quinhão desses insetos, muito embora o Sr. Guinle não possa se queixar pois o Copacabana também as tem apesar de todo o DDT. Pertencendo à família das BLATÍDEAS, muito conhecida nos buracos de rodapés, cantos de estantes, fundos de arquivos e de gavetas, as baratas têm hábitos próprios interessantíssimos com os quais me familiarizei nos meus longos anos de pertinaz contato com arcanos e alfarrábios.Para se lidar com baratas há quem acredite em inseticidas e baraticidas. Como em tudo mais, acredito em psicologia. Para se aplicar a psicologia é preciso um certo método e uma vasta disciplina. Vejamos.Encontra-se a barata. Para se encontrar uma barata não é preciso muito gasto de energia. Em geral ela nos procura. E mais em geral ainda ela vem ao meio de nossos dedos quando pegamos aquela pilha de livros que estava embaixo da escada. No momento em que sentimos a barata presa em nossos dedos um sentimento de horror inaudito corre nossa espinha. Largamos livros, agitamo-nos furiosamente, batemos no chão, nos móveis e nos livros com o primeiro pano ou jornal que se nos depara, mas, a essa altura, a barata já estará longe, escondida numa das 365 mil páginas dos 870 livros que espalhamos no chão. Como encontrá-la? eis o problema. Esse problema, depois de acalmados nossos nervos e esfregadas nossas mãos com sabão e bastante álcool, é que procuramos resolver.Existe, para se pegar uma barata, dois processos distintos. Um é chamar a empregada e dizer: "Tem uma barata aí! Quero isso bem limpo!" e virar covardemente as costas. Dessa atitude pode resultar que a barata atinja um extraordinário grau de longevidade pois a empregada passará um pano nos livros e jogará por cima deles um pouco de DDT, dando-se por satisfeita. A barata também. E daqui há seis meses, quando você for pegar aquele velho exemplar de Balzac, terá a desagradável surpresa de ver, à página 276, olhando-o com aqueles olhos brejeiros e aquelas antenas irônicas que lhe são próprios, a mesma barata que você tinha condenado à morte. Vocês fitar-se-ão demoradamente. Ela continuará baloiçando as antenas. E você, depois de um segundo de inércia, saltará para o ar, jogará o livro para o outro lado e berrará femininamente. Pois eis que as baratas têm o extraordinário poder de nos afeminar a todos, afirmativa essa que se aceitará sem contestação se se atentar para o grande número de baratas que há em nossos teatros.Portanto não se deve virar as costas a uma barata, como fazem os elementos da ribalta, mas sim enfrentá-la masculamente. Para isso precisamos, antes de mais nada, saber se a barata é uma BLATÍDEA comum ou se é uma PERIPLANETA AMERICANA, ou, em linguagem menos científica, uma dessas baratas que voam. Se é dessas aconselho o leitor a desistir de qualquer pretensão máscula, arrumar as malas, fechar as portas de sua casa e entrar para o Teatro.Agora, se é das outras, sempre há recursos:1 — Pegue um Correio da Manhã bem dobrado, deixando à mostra o artigo de fundo. Sacuda os livros e espere, trepado numa cadeira. Atente sobretudo para o estilo de bater quando a barata surgir. Lembre-se: o estilo é o homem.2 — Quando a barata surgir bata de uma vez. Não durma na pontaria. Ela normalmente pára um pouquinho, para sondar o ambiente cá de fora e confrontá-lo com a literatura em que vive metida. esse o momento de atacar.3 — Trate de verificar se o inseto em que você está batendo é uma barata ou um barato. Nunca se esqueça: o barato sai caro.4 — Nunca aproxime e afaste o jornal para fazer pontaria. As baratas sabem muito bem o que as espera quando sentem esse ventinho, quando você bater de verdade ela já terá embarcado para a Europa.5 — Não tenha pena de bater. Bata firme, forte, decididamente. É a vida dela ou a sua. Se você não a matar terá que passar a existência inteira alimentando-a a inseticida.6 — Não se importe com as coisas que o cercam. Afinal de contas que são meia dúzia de copos partidos, um tapete manchado, dois livros com as páginas rasgadas e uma perna de cadeira quebrada se você conseguiu eliminar uma barata?7 — Se falhar, só a paciência lhe dará outra oportunidade. A barata não lhe dará outra tão cedo, enquanto permanecer em sua memória o trauma da pancada que quase lhe tirava a vida. Não adianta você sacudir livro após livro porque se recusará a aparecer. Agarrar-se-á às páginas e, se cair ao chão, correrá rapidamente, escondendo-se por trás do guarda-roupa.8 — Não se deixe levar pela vaidade. Às vezes você atinge uma barata de leve e ela vira-se de barriga para o ar agitando as perninhas ininterruptamente, com a expressão de quem está dando uma gargalhada, achando você engraçadíssimo. Isso poderá lisonjeá-lo mas não a poupe por esse motivo.9 — Às vezes elas tentam outro truque sentimental. Atingidas de leve elas vão se arrastando tristemente, de vez em quando olhando para você com um olhar que 1he dilacera o coração, como quem diz: "Seu malvado, viu o que você fez?" Antes de começar a chorar bata até matar. Depois chore.10 — De seis em seis meses faça um teste consigo próprio para ver se você está mais desbaratador do que no semestre anterior. Se a resposta for negativa não esmoreça. Continue lutando até que possa, como nós, cobrar caro pelas lições administradas. E essa é nossa última recomendação: cobre sempre caro pelos seus conselhos nesse setor. Não se barateie!

Millôr Fernandes, ao que parece, padece do mesmo horror a baratas que muitos de nós têm.
Texto extraído do livro "Lições de Um Ignorante", José Álvaro Editor, Rio de Janeiro, 1967, pág. 113.

CISCO NO OLHO...


Um jovem casal se mudou para Curitiba. Chegando na cidade, começaram a arrumar a nova casa. A vizinha comentou com seu marido, olhando pela janela: "Essas jovens esposas não sabem lavar roupa. Que toalha encardida, coitado do marido!". E todos os dias, durante o café da manhã, ela tinha uma crítica. Olhando pela janela, dizia: "Meu bem, que porca é nossa vizinha.Os lençóis, no varal, estão sujos: as calças do marido dá dó de ver, aquela camisa que deveria ser branca nem tem mais cor..." .Dia-a-dia ela fazia críticas, até que num sábado, ela levou um susto e falou para o marido: "Meu bem, que milagre! Ela aprendeu a lavar roupa. Nossa, que brancura! Venha ver. Qual sabão será que ela está usando? Ah, eu tenho que descobrir!"O marido então, sorrindo, respondeu: "Minha querida, não é um novo sabão. Simplesmente lavei a nossa janela".

Já dizia Jesus, quantas vezes olhamos o cisco no olho do outro e não vemos a trave que está no nosso olho... "Muita paz teríamos se não nos importássemos com o que os outros fazem, e que não nos diz respeito"

O POTE RACHADO...


Um carregador de água na Índia levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada em seu pescoço.Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe. O pote rachado chegava apenas pela metade.Foi assim por dois anos, diariamente. O carregador entregando um pote e meio de água na casa de seu chefe. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição, e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que ele havia sido designado a fazer. Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem um dia à beira do poço:- Estou envergonhado, e quero pedir-lhe desculpas.- Por quê ? Perguntou o homem. De que você está envergonhado ?- Nesses dois anos eu fui capaz de entregar apenas a metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa de seu senhor. Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, e não ganha o salário completo dos seus esforços, disse o pote.O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão falou:- Quando retornarmos para a casa de meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.De fato, à medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu certo ânimo.Mas ao fim da estrada, o pote ainda se sentia mal porque tinha vazado a metade, e de novo pediu desculpas ao homem por sua falha. Disse o homem ao pote:- Você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado ? Eu, ao conhecer o seu defeito, tirei vantagem dele. Lancei sementes de flores no seu lado do caminho, e cada dia enquanto voltávamos do poço, você as regava. Por dois anos eu pude colher estas lindas flores para ornamentar a mesa de meu senhor. Se você não fosse do jeito que você é, ele não poderia ter esta beleza para dar graça à sua casa. Cada um de nós temos nossos próprios e únicos defeitos. Todos nós somos potes rachados. Porém, se permitirmos, o Senhor vai usar estes nossos defeitos para embelezar a mesa de seu Pai. Na grandiosa economia de Deus, nada se perde. Nunca deveríamos ter medo dos nossos defeitos. Se os conhecermos, eles poderão causar beleza.

RECEITA DE JOVIALIDADE (Pablo Picasso)


Jogue fora todos os números que não essenciais para sua sobrevivência. Isso inclui idade, peso e altura. Deixe o médico se preocupar com eles. Para isso ele é pago.Frequente, de preferência, seus amigos alegres.Os de "baixo astral" puxam você para baixo.Continue aprendendo...Aprenda mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa. Não deixe seu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é a oficina do diabo. E o nome do diabo é Alzheimer.Curta coisas simples.Ria muito, e muito, e alto.Ria até perder o fôlego.Lágrimas acontecem.Aguente, sofra e siga em frente.A única pessoa que acompanha você a vida toda é você mesmo.Esteja vivo, enquanto você viver!Esteja sempre rodeado daquilo que você gosta:família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. Seu lar é o seu refúgio.Aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se está instável, melhore-a. Se está abaixo desse nível, peça ajuda.Não faça viagens de remorso. Faça uma viagem ao Shopping, para cidade vizinha, para um país estrangeiro, mas não faça viagens ao passado.Diga a quem você ama, que você realmente os ama, em todas as oportunidades.E lembre-se sempre que:A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego: de tanto rir... de surpresa... de êxtase... de felicidade...""Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há também aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol"

A DOÇURA...

O viajante caminhava pela estrada, quando observou o pequeno rio que nascia tímido por entre as pedras. Foi seguindo-o por muito tempo. Aos poucos, o rio foi tomando volume e, bem mais adiante, dividiu-se em dezenas de cachoeiras, num espetáculo de águas. O som das águas atraiu o viajante, que foi descendo pelas pedras ao lado de uma das cachoeiras. Ali, finalmente descobriu uma gruta. Com paciência, a natureza criara caprichosas formas. O viajante foi entrando e admirando as rochas gastas pelo tempo. De repente, descobriu uma placa. Alguém estivera ali antes dele. Com a lanterna, iluminou os versos que nela estavam escritos. "Não foi o martelo que deixou perfeitas estas pedras, mas a água, com sua doçura e delicadeza. Onde a dureza só faz destruir, a suavidade consegue esculpir".Assim também acontece na vida. Muitas vezes agimos de maneira agressiva e violenta com as dificuldades que aparecem. Se nos abandonarmos nas mãos de Jesus e deixar que Ele coloque a mão sobre as tormentas do nosso dia-a-dia. Sentiremos a suavidade de seu Amor e a docilidade de Nossa Senhora direcionando todo o nosso caminho.

O MENINO E AS FLORES...


"Certo dia correndo no transito da rua, trombei com um estranho e disse-lhe: - Oh, me desculpe por favor!E ele disse: - Ah, desculpe-me também, eu simplesmente nem te vi!Nós fomos muito educados um com o outro. Então, nos despedimos e cada um foi pro seu lado.Mais tarde naquele mesmo dia eu estava fazendo o jantar e meu filho parou do meu lado tão em silêncio que eu nem percebi. Quando eu me virei, Eu lhe dei uma bronca. "Saia do meu caminho garoto!" E eu disse aquilo com certa braveza, e ele foi embora, certamente com seu pequeno coração partido... Eu nem imaginava como havia sido rude com ele. Quando eu fui me deitar, eu podia ouvir a voz calma e doce de Deus me dizendo: "Quando falava com um estranho, quanta cortesia você usou! Mas com seu filho, a criança que você ama, você nem sequer se preocupou com isso! Olhe no chão da cozinha, você verá algumas flores perto da porta... Aquelas são flores que ele trouxe pra você. Ele mesmo as pegou, a cor-de-rosa, a amarela e a azul. Ele ficou quietinho para não estragar a surpresa, e você nem viu as lágrimas nos olhos dele". Nesse momento, eu me senti muito pequena e agora, o meu coração era quem derramava lágrimas. Então eu fui até a cama dele e ajoelhei ao seu lado. "Acorde filhinho, acorde. Estas são as flores que você pegou pra mim? "Ele sorriu, "Eu as encontrei embaixo da árvore. Eu as peguei porque as achei tão bonitas como você!. Eu sabia que você iria gostar, especialmente da azul"Eu disse, "filho, eu sinto muito pela maneira como agi hoje.Eu não devia ter gritado com você daquela maneira. "E ele disse. "Ah mamãe, não tem problema, eu te amo mesmo assim!!"Eu disse: "Filho, eu também te amo. E eu adorei as flores, especialmente a azul."