Páginas

domingo, 23 de março de 2008

A UM LESGISTA...


Tu foges à cidade? Feliz amigo! VãoContigo a liberdade, A vida e o coração. A estância que te esperaÉ feita para o amorDo sol com a primavera, No seio de uma flor. Do paço de verdura Transpõe-me esses umbrais; Contempla a arquitetura Dos verdes palmeirais. Esquece o ardor funesto Da vida cortesã; Mais val que o teu Digesto A rosa da manhã. Rosa... que se enamora Do amante colibri, E desde a luz da aurora Os seios lhe abre e ri. Mas Zéfiro brejeiro Opõe ao beija-flor Embargos de terceiro Senhor e possuidor. Quer este possuí-la, Também o outro a quer. A pobre flor vacila, Não sabe a que atender. O sol, juiz tão grave Como o melhor doutor, Condena a brisa e a ave Aos ósculos da flor .Zéfiro ouve e apela. Apela o colibri. No entanto, a flor singela Com ambos folga e ri. Tal a formosa dama Entre dois fogos, quer Aproveitar a chama... Rosa, tu és mulher! Respira aqueles ares, Amigo. Deita ao chão Os tédios e os pesares. Revive. O coração É como o passarinho, Que deixa sem cessar A maciez do ninho Pela amplidão do ar. Pudesse eu ir contigo, Gozar contigo a luz; Sorver ao pé do amigo Vida melhor e a flux! Ir escrever nos campos, Nas folhas dos rosais, E à luz dos pirilampos, Ó Flora, os teus jornais! Da estrela que mais brilha Tirar um raio, e então Fazer a gazetilha Da imensa solidão. Vai tu, que podes. Deixa Os que não podem ir, Soltar a inútil queixa. Mudar é reflorir.
Machado de Assis

Nenhum comentário: