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domingo, 14 de dezembro de 2008

A REBELIÃO CONTRA O ESTÔMAGO..


Variações desta história existem desde a Antigüidade clássica. Apóstolo Paulo emprega uma delas em sua primeira epístola aos Coríntios 12:14-16.

Uma vez um homem sonhou que suas mãos, pés boca e cérebro começaram todos a rebelar contra o estômago.
-“Sua lesma imprestável! – as mãos disseram:
-“Nós trabalhamos o dia inteiro, serrando, martelando, levantando e carregando. De noite estamos cobertos de bolhas e arranhões, nossas juntas doem e ficamos cheias de sujeiras. Enquanto isso, você só fica aí sentado, pegando a comida toda!”
-“Nós concordamos! – gritaram os pés. Pense só como nos desgastamos, andando para lá e para cá o dia inteiro. E você só fica se entupindo, seu porco ganancioso, cada vez mais pesado para a gente carregar.”
-“Isso mesmo! – choramingou a boca. De onde você pensa que vem toda a comida que você tanto ama? Eu é que tenho que mastigar tudo e, aí para baixo, só para você. Você acha que isso é justo?”
-“E eu? Gritou o cérebro. – Você acha que é fácil ficar aqui em cima, tendo que pensar de onde vai vir a sua próxima refeição? E ainda por cima, não ganho nada pelas minhas dores todas.”
Uma por uma, as partes do corpo aderiram às reclamações contra o estômago, que não disse coisa alguma.
-“Tenho uma idéia! O cérebro finalmente anunciou. Vamos todos nos rebelar contra essa barriga preguiçosa e parar de trabalhar para ela.”
-“Soberba idéia! – Todos os outros membros e órgãos concordaram.
-“Vamos lhe ensinar como nós somos importantes. Seu porco! Assim, talvez, você também acabe fazendo algum trabalho.”
E todos pararam de trabalhar. As mãos se recusaram a levantar ou levantar coisas. Os pés se recusaram a andar. A boca prometeu não mastigar nem engolir nem um bocadinho. E o cérebro jurou que não teria mais nenhuma idéia brilhante. No começo, o estômago roncou um pouco, como sempre fazia quando estava com fome. Mas, depois, ficou quieto.
Nesse ponto, para surpresa do homem que sonhava, ele descobriu que não conseguiu nem abrir a boca . E, de repente, começou a se sentir bem doente.
O sonho pareceu durar vários dias. A cada dia que passava, o homem se sentia cada vez pior.
-“É melhor que essa rebelião não dure muito – ele pensou – senão vou morrer.”
Enquanto isso, mãos, pés, boca e cérebro só ficava à toa, cada vez mais fracos. No início se agitaram um pouquinho, para escarnecer do estômago de vez em quando; mas, pouco depois, não tinham mais energia nem para isso.
Por fim, o homem ouviu uma vozinha fraca vinda da direção dos pés.
-“Pode ser que estivéssemos enganados – eles diziam – talvez o estômago estivesse trabalhando o tempo todo, ao jeito dele.”
-‘Estava pensando a mesma coisa – murmurou o cérebro. – É verdade que ele fica pegando a comida toda, mas parece que ele manda a maior parte de volta para nós.”
-“Devemos admitir nosso erro – disse a boca – o estômago tem tanto trabalho a fazer quanto as mãos, os pés, o cérebro e os dentes.”
-“Então, vamos todos voltar ao trabalho!” – gritaram juntos. E, nisso, o homem acordou.
Para seu alívio, descobriu que os pés estavam andando de novo. As mãos seguravam, a boca mastigava e o cérebro agora conseguia pensar com clareza. Começou a se sentir muito melhor.
-“Bem, eis aí uma lição para mim … - ele pensou, enquanto enchia o estômago de café e pão com manteiga, de manhã. - … Ou funcionamos todos juntos, ou nada funciona mesmo.”

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