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terça-feira, 1 de março de 2011

DESPREZO PREMEDITADO...

"O que despreza ao seu vizinho peca, mas feliz é aquele que se compadece dos pobres" (Provérbios 14.21).


Mina e Celma descendiam de famílias que imigraram para o Brasil. Foram amigas nos dias da infância, mas se tornaram adultas, casaram-se e nunca mais se encontraram.
Depois de transcorridos muitos anos, certa tarde, Mina foi visitar uma amiga. Como houvesse se demorado mais do que o previsto, fez parar um táxi e tomou caminho de volta. Notou que ao volante estava uma mulher e pôs-se a conversar com ela.
Ambas notaram algo de familiar entre as duas e finalmente reconheceram-se. Celma, simples, porém autêntica; e Mina, sofisticada, presunçosa e toda superficial. Notando que Celma era a mesma pessoa ingênua, articulou um plano para vê-la humilhada ao seu lado. Convidou-a para um chá íntimo e ela credulamente aceitou. No horário estabelecido, Celma compareceu nos seus trajes de serviço.
Mina preveniu as amigas da sua roda sobre o jeito de ser da convidada, mas se fingiu cordial ao recebê-la. Vieram os cumprimentos estudados, um pouco de conversa e em seguida foi servido um cálice de licor acompanhado de canapés; mas tudo com grande requinte. Sem se preocupar com o aparato, Celma serviu-se à vontade. Falou alto, gesticulou o quanto julgou necessário. Daí... olhares zombeteiros, risinhos irônicos e piscadinhas maliciosas... Celma, o alvo das atenções.
Mas esta cena não se prolongou por longo tempo. O telefone tocou. Avisava que o neto de Mina fora acidentado. Esta, transtornada, retorna à sala e comunica o fato. Foi então que ela viu sair cada amiga sem se preocupar com o seu desespero. Mas Celma permaneceu. Solícita e experiente, entrou logo em ação, conduzindo Mina à Clínica onde o neto se encontrava, e para satisfazer as exigências preliminares do hospital, ela teve de emprestar dinheiro também. Estava sendo exigida a presença dos pais da criança e foi a essa altura que Mina precisou dizer que a filha era desquitada e o garotinho sofria muito com a ausência do pai.
Celma, seguindo a direção indicada pela amiga, saiu à procura da mãe e depois do pai da criança, mas só depois de uma hora de busca os dois foram encontrados. O pai, bebendo num bar e a mãe jogando numa casa de jogos clandestinos. De volta à Clínica, novo problema: sangue para o menino. Mina se comunica com sua roda de amigas, mas nenhuma foi encontrada com disposição para doar.
Celma ligou para as suas vizinhas e não tardou surgir um grupo da amizade dela e a criança recebeu o sangue necessário.
Alta madrugada, Mina e Celma se separaram, porém o quadro era outro. A primeira sem a máscara da hipocrisia, humilhada e envergonhada, sentia-se pequena ao lado da verdadeira amiga. Esta, cansada, mas feliz, estava em paz consigo mesma, por haver cumprido o dever de amiga.


Paulo Roberto Barbosa

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