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sábado, 16 de abril de 2011

CORAÇÕES PLASTIFICADOS...

A relação amorosa perfeita que a grande maioria das pessoas procura é proveniente de um sentimento mágico e irreal existente nos inúmeros contos de fadas ou filmes que apreciamos no decorrer de nossas vidas por pertencerem ao mundo dos sonhos. Sem perceber a confusão mental que muitas vezes ocorre sobre o que é amor e o que não é, torna-se difícil distinguir amor e anseio, amor e paixão, ocasionando assim as famigeradas dores amorosas ou desconfortos emocionais.

Steven Carter, em seu livro "A coragem de amar", expressa claramente: "Assumir um compromisso com a pessoa que amamos significa envolver-se em uma situação de risco em que nosso frágil coração pode se machucar e ainda podemos ficar presos a um relacionamento do qual poderemos nos arrepender mais tarde. Se vamos viver uma experiência íntima, nosso coração tem de ser tão valente quanto amoroso." A ousadia também é necessária, afinal, presume-se que, em certos momentos, precisaremos optar entre a cervejinha com os amigos, ou aquela conversa tão planejada com o amigo que nos entende até a alma, e o compromisso amoroso . Desmarcar compromissos, assumir para amigos e principalmente para nós mesmos nossas escolhas, é algo que exige ousadia. Tudo isso, considerando que nossa privacidade não está sendo invadida... realmente não é tarefa das mais simples.

Algumas pessoas não são capazes de manter relacionamentos verdadeiros, resistem a assumir compromissos e, ao notarem sua vulnerabilidade frente à determinada ligação amorosa, afastam-se definitivamente sem explicações ou convidam o parceiro para um confronto (briga) a fim de viabilizar uma forma do mesmo terminar a relação. Faltam motivos e coragem para assumir o desligamento de um namoro. Daí a necessidade de "passar a bola" para o outro, pois assim, talvez o sentimento de culpa seja um pouco menos intenso.

Mas o que favorece comportamentos auto-destrutivos ou negativos, que impedem que a pessoa experimente a alegria de ser feliz em uma relação amorosa? A ausência de nosso conhecimento interior, ou seja, não saber quem realmente somos em nossa essência acentua o vácuo entre nós e o outro. É comum o uso de emoções de disfarce para satisfazer ou causar "boa impressão" a todos que nos cercam. Assim, vamos esquecendo quem somos nós, quais nossas vontades reais e, infelizmente, os nossos mais preciosos sonhos.

Cada vez mais vamos deixando de lado nossa criança interior em nome de conquistas consideradas "imprescindíveis" no mundo dos adultos. Desta forma, administrar as emoções torna-se tarefa complicada, tal como a expressão de nossos sentimentos. Passamos a conhecer aquele medo danado de sermos abandonados ou ridicularizados ao manifestar a alegria de compartilhar a vida com quem gostamos de verdade.

Geralmente, a procura por alguém ideal que venha trazer a felicidade, seguindo acima de tudo o coração e deixando a razão de lado, ou talvez a imensa carência amorosa que facilita o doar, a entrega total e descabida, além da falta de limites, faz com que as decepções ocorram freqüentemente. Diante das inúmeras desilusões, muitas pessoas plastificam seus corações sem antes considerar sua própria responsabilidade, permissões e poderes inadequados que deram ao outro. É mais fácil, então, assumir uma posição de vitimosidade e, ao mesmo tempo, isolar-se e na maioria das vezes negar-se a aceitar o amor. Aliás, podemos afirmar que tal comportamento não é privilégio de alguns, mas de quase todos nós, afinal, no decorrer de nossa história de vida, com certeza não soubemos aceitar o amor e experimentamos o quão difícil é deixar que alguém nos ame de verdade, pelo simples fato de não nos sentirmos merecedores.

O importante é tomar consciência de que trazemos impressos em nossos corações "experiências" doces, amargas, tristes, suaves, sensações infinitamente indescritíveis desde nossa infância e que, ao longo de nossa história de vida, tornaram-se "marcas". Porém, apesar de tatuados, nossos corações são saudáveis e estão à espera daquele amor básico, humano, real e bem-sucedido!

Impermeabilizar nossas lágrimas decididamente não é a saída mais saudável. O choro de dor ou alegria amorosa faz parte do crescimento emocional de todos os seres humanos.
 Não é preciso plastificar o coração com medos, rancores, dores, desilusões e fraquezas para proteger-se. Temos a capacidade de amar e impedir que o outro nos faça sofrer. Fazer uso da sinceridade, de nossas emoções autênticas, revelar quem realmente somos, valorizar nossas qualidades, reconhecer nossas limitações e o que desejamos conquistar em nossa vida amorosa são ingredientes essenciais para destruir as couraças que, por vezes, construímos inconscientemente. Decididamente seria bem mais interessante confiar no amor e, acima de tudo, em nós mesmos e em nossa potencialidade de progredir na arte de amar.

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