Case-se com alguém que adore te escutar contando algo
banal como o preço abusivo dos tomates, ou que entenda quando você precisar
filosofar sobre os desamores de Nietzsche.
Case-se com alguém
que você também adore ouvir. É fácil reconhecer uma voz com quem se deve casar;
ela te tranqüiliza e ao mesmo tempo te deixa eufórico como em sua infância, quando se ouvia o som do portão abrindo, dos
pais finalmente chegando. Observe se não há desespero ou insegurança no
silêncio mútuo, assim sendo, case-se.
Se aquela pessoa não te faz rir, também não serve para casar. Vai chegar
a hora em que tudo o que vocês poderão fazer, é rir de si mesmos. E não há nada
mais cruel do que estar em apuros com alguém sem espontaneidade, sem vida nos
olhos.
Case-se com alguém cheio de defeitos, irritante que seja, mas desconfie
dos perfeitinhos que não se despenteiam. Fuja de quem conta pequenas mentiras
durante o dia. Observe o caráter, antes de perceber as caspas.
Case-se com alguém por quem tenha tesão. Principalmente tesão de vida.
Alguém que não o peça para melhorar, que não o critique gratuitamente, alguém
que simplesmente seja tão gracioso e admirável que impregne em você a vontade
de ser melhor e maior, para si mesmo.
Para se casar, bastam pequenas habilidades. Certifique-se de que um dos
dois sabe cumpri-las. É preciso ter quem troque lâmpadas e quem siga uma
receita sem atear fogo na cozinha; é preciso ter alguém que saiba fazer
massagem nos pés e alguém que saiba escolher verduras no mercado. E assim
segue-se: um faz bolinho de chuva, o outro escolhe bons filmes; um pendura o
quadro e o outro cuida para que não fique torto. Tem aquele que escolhe os
presentes para as festas de criança e aquele que sabe furar uma parede, e só a
parede por hora. Essa é uma das grandes graças da coisa toda, ter uma boa
equipe de dois.
Passamos tanto tempo observando se nos encaixamos na cama, se sentimos
estalinhos no beijo, se nossos signos se complementam no zodíaco, que deixamos
de prestar atenção no que realmente importa; os valores. Essa palavra antiga e,
hoje assustadora, nunca deveria sair de moda. Os lábios se buscam, os corpos
encontram espaços, mas quando duas pessoas olham em direções diferentes,
simplesmente não podem caminhar juntas. É duro, mas é a verdade.
Desta forma, esqueça todas as sugestões anteriores e guarde uma simples:
antes de casar-se com alguém é preciso conhecê-lo bem, e isso é profundamente
difícil quando não se conhece minimamente a si próprio. Sabendo que caminho
quer trilhar, relaxe! A pessoa certa para casar certamente já o anda trilhando.
Como reconhecê-la? Vocês estarão rindo. Rindo-se.
Diego Engenho Novo
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