Escrevo
sobre coisas que não entendo. E uma delas são essas pessoas que vivem em busca
da metade da laranja.
Pessoas
que saem por aí negando felicidade, escondendo sorrisos e desperdiçando vida
porque ainda não encontraram alguém, e jogando no outro a responsabilidade de
fazê-las felizes, como se essa obrigação não fosse inteiramente nossa.
Buscar
algo que te complete significa pressupor que você nasceu pela metade. Faltando
um pedaço que necessariamente precisa ser encontrado. Significa reduzir a vida
a muito pouco, a uma caminhada em busca de um complemento. Apenas UM
complemento, que te priva de outras frutas inteiras, interessantes e
deliciosas. Significa reduzir infinitas possibilidades a uma procura sem
sentido.
E
aí vira desespero. Vem aquele medo de morrer pela metade, ou, pior ainda, de
viver pela metade. Porque toda busca esconde um vazio, e todo vazio desperta
carência. E a carência é repelente de paixão, de afeto. É um círculo
vicioso e sem fim.
Pessoas
que vivem em busca de algo que as completem tendem a passar a vida inteira como
metades, como pedaços incompletos e perdidos. Ou, pior: elas encontram outras
metades. Sim, porque metades não encontram inteiros. Metades só encontram
metades: é pura lógica. E essa busca é tão desesperada, que não dá para
encontrar metades simétricas. Aliás, tenho lá minhas dúvidas de que existem
metades que se completem perfeitamente. A maioria encontra metades
assimétricas. Que não casam, não complementam, não encaixam. Mas elas continuam
ali, tentando a todo custo e, quase sempre, sem nenhum êxito, transformar duas
metades em um inteiro.
E,
se você quer saber, o que mais há nesse mundo são metades. Pessoas incompletas
ou completamente vazias – que, evidentemente, não têm muito a oferecer. Metades
são rasas e perdem o encanto. Duas metades não são um inteiro: são apenas duas
metades juntas, dividindo a amargura de serem apenas duas metades. Duas metades
que perdem um pedaço de si toda vez que tentam encaixar-se para tornarem-se
inteiros.
Mas
eu compreendo. É que a gente cresce ouvindo que, em algum lugar distante, há um
príncipe. Ou um sapo, ou um vilão, tanto faz. O fato é que a gente cresce
ouvindo que alguém – bom ou ruim – virá, no momento certo, para nos dar o que
nos falta de nós mesmos.
E
aí vamos nos acomodando. Vamos deixando de preencher nossas lacunas, de buscar
nossas respostas, de formular nossas perguntas. Nós envelhecemos com o
pensamento de que “alguém vai chegar” e fazer o serviço que é nosso. Alguém vai
chegar para nos dar a felicidade que, sozinhos, fomos incapazes de encontrar.
E, se de repente, chega, construímos um relacionamento imaturo e doentio. Uma
relação de necessidade. Afinal, aquele ser faz parte de nós. É o nosso pedaço
que faltava. E se ele for embora, faltará uma parte, novamente. Metades que se
encontram jamais se sentem inteiras. Ao contrário, elas são cada vez mais
metades até se reduzirem a nada – elas se perdem na ilusão de que podem se
completar.
Pessoas
inteiras, ao contrário, são excepcionais. Pessoas completas – que, consequentemente,
atraem outras pessoas completas – estampam no rosto a autorealização. Elas
encontram – veja bem, sem precisarem procurar – outras laranjas inteiras, doces
e maduras. Elas compreendem que não lhes falta nada: mas, é claro, uma boa
companhia vai bem. São completas, profundas, infinitas. Laranjas inteiras
desfrutam o melhor das relações, que é compartilhar o seu inteiro com o inteiro
do outro.
Antes
de encontrar alguém, encontre – em você mesmo – a outra metade que te falta.
Descubra seus segredos, seus gostos, desfrute da deliciosa solidão do autoconhecimento.
Procure-se e encontre-se, até se tornar tão absolutamente encantador a ponto de
atrair pomares inteiros. E, só depois de encantadoramente completo, encontre
alguém que te transborde.
Nathalí Macedo
Um comentário:
"Quem não é um bom ímpar, jamais será um bom par."
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