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quarta-feira, 27 de abril de 2016

ARREPENDIMENTO...

"Confesse", o pessoal tem pedido no Facebook.
Algo que você sempre quis me falar, mas não teve coragem ou oportunidade.
"Coragem" e "oportunidade" me remetem ao sentimento de arrependimento.
Nas relações, por exemplo. Amizades, namoros, casamentos, relações familiares... Não importa. Em todas elas, costumamos nos adaptar. Por anos, a pessoa está lá, ao nosso alcance. Mas nos adaptamos. Acostumamos com sua presença, e temos a terrível ilusão de que as coisas vão continuar sempre como estão. Deixamos de agradecer, valorizar, investir nossa energia na relação. Passamos a tratar a pessoa como se fosse sempre estar lá.
Até que um dia a pessoa vai embora.
Às vezes, por força da natureza. Nada permanece. Infelizmente, a saúde também não. É a única certeza que todos temos, diz a sabedoria popular.
Às vezes, por vontade própria. Cansada de ser tratada com descaso, ou de não ter sua presença devidamente valorizada.
É aí que ele surge. O sentimento mais comum no vazio deixado por quem vai embora: o arrependimento. Por não ter feito isto ou aquilo. Por não ter valorizado. Por não ter agradecido. Por não ter estado lá. Por não ter tentado.
Na raiz do arrependimento está um tipo ruim de esperança: a que vem do verbo "esperar". A pessoa arrependida geralmente é (ou foi) esperançosa. Esperou que as coisas mudassem, esperou a oportunidade, esperou ter coragem... Esperou, em vez de agir. Em vez de ter feito diferente. Em vez de confessar.
Então confesse! Mas não espere a pessoa te pedir. Pois um dia essa pessoa irá embora da sua vida. Daqui a anos, ou num instante daqui a pouco.
E quando ela for, tenha o conforto de saber que você fez o seu melhor. De saber que, pelo menos, você tentou -- em vez do arrependimento que nos faz desejar que tivéssemos agido de forma diferente.


Pedro Calabrez Furtado

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